As quizilas, as réplicas e tréplicas inerentes ao pathos convivial — contraparte necessária ao pathos da distância constitutivo da linguagem da poesia — nos condenam a uma atitude de análise em que o importante é nos sentirmos implicados quer nos logros, quer nas pertinências que denunciamos.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

eco épico e cólica lírica

www.verbavisual.blogspot.com

O épico se funda nas narrativas do passado, na oratura dos mitos (história), e, paradoxalmente, no projeto utópico de construção de uma identidade e de um verismo nacionais. O poema épico plasma a língua e elementos performativos da cultura de um povo. A clave lírica pertence à categoria do existente efêmero e vai operar sobre o real em processo, a partir da singularidade da fala que denuncia os sinais fonológicos da pessoa-indivíduo; e esta linguagem de alguns instantes vem a ser o poema da modernidade.

Hoje, a balança épico/lírico se encontra francamente desequilibrada para o lado do lírico-fala-linguagem. Estamos mais aptos a apreciar a linhagem/linguagem de poetas da fragmentação e da polissemia, do que a linha/língua de artistas mais objetivistas, devotados à recuperação de uma expressão clara, narrativa, e de comunicação realista ou referencial.


ronald augusto

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

ébrio desequilivro




o torpedeamento do plasma estético contemporâneo, queira ou não, tem que passar por um gesto de aproveitamento do que melhor e pior se fez em nível de experimentação do solo dúctil da palavra e os espaços im/prováveis onde ela atua. de quebra, com todas as dobras estéticas e éticas praticadas sobre utensílios e objetos midiáticos (nós que estamos cegos de tanto ver). citem-se Warhol, Duchamps, Brossa, esse time todo.

a inquietação levada tão só na ordem programática de um projeto de ruptura corre o risco de diluir-se na e pela própria sofreguidão pelo novo: brochura e brochada da radicalidade a meio-pau.

mas ela, a tentativa de re-verter para uma outra leitura a face costumada, deve estar sim, sempre, na tensão de um estágio estético.

não é o caso aqui: um fazer tenaz, quase abstraído de sua irreverência.

Cândido Rolim

canto paralelo


uma figura possível para a minha idéia de leitura criativa: aquela que poderia ser irmã siamesa da operação tradutória; aquela rente à leitura que se faz de lápis em punho. o poema assediado por meio de rasuras e escarificações à margem da "mancha gráfica" da página. leitura como reencenação mental de uma signagem poética particular.

não se trataria mais da leitura física apenas, fonema a fonema, palavra a palavra, sintagma a sintagma, etc., que resulta, segundo schopenhauer em mera repetição (à boca pequena, em silêncio ou à viva voz) do processo mental do autor: essa sorte de leitura obediente.


ronald augusto

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

nos deslimites do leitor

emprestada à imaginação crítica de paul zumthor
uma bela definição de poesia:
“sua forma é imagem:
fruto de uma operação pessoal,
cujas regras heurísticas se fundamentam
num sedimento de experiências
mal comunicáveis como tal,
inexplícitáveis,
injustificáveis,
aprisionadas nos limites
de um indivíduo vivo”.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

objeto in situ / mostra de eduardo frota





Planos que se destacam de uma remota invisibilidade, abandonados a um oblíquo exercício de interferência no opaco. Lâminas, gomos, gumes; jorro enviesado da transparência, em certos momentos invasiva, noutros em vôo tangente, cortando a madeira-carne, desbordando o limiar dos artifícios fixos, artifixos, lúbrica e lúdica.

A transparência em plaquete oblíqua quase vence a platitude da madeira, rumo ao chão.


Está-se dentro ou fora de um contorno sem centro, aberto, instaurado para fora, devotado ao vazio.

A lâmina prestes a varar o panteão ameaçador – passagem para orum? – inspira medo, suspense, submissa vigília; nossa cabeça mínima, ori-minimal: e os olhos, pequenos objetos de ver, se oprimem num pressentimento, o sobrevôo de uma vasta clave ausente: o homem é involucrado nessa indecisão arqui-tectônica, submetido a um delírio guilhotinesco. Coberto por um metro quadrado de acrílico, dúbio, que pode protegê-lo, expondo-o, ou decepa-lo.

Afinal, de onde vem a translucidez furtiva que sufoca nossa apreensão? Em que zona refratária se tocam esse objeto sem sítio e o corpo semovente?


Cândido Rolim


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