As quizilas, as réplicas e tréplicas inerentes ao pathos convivial — contraparte necessária ao pathos da distância constitutivo da linguagem da poesia — nos condenam a uma atitude de análise em que o importante é nos sentirmos implicados quer nos logros, quer nas pertinências que denunciamos.

sábado, 15 de agosto de 2009

marcelo sahea, uma peri-peça


Um gato (p. 51 do livro Leve). o estático contorno felino aconchega precariamente a fuga da pilosidade-discurso (novelo de lânguidos, lê-se). pedra de toque da contemporaneidade, o fluxo vertiginoso das imagens (neste caso, da grafia) não permite que se detenha com sossego na referência, aqui implodida e reconstruída ad infinitum. o caligrama em passagem, ao mesmo tempo que preenche a modo de entranha a fôrma do animal, contraria a minúcia esperada da referência continente: gato.

não sei se em função da articulação mecânica do poema (atribuível mais à performance impessoal do computador e aos limites de suas ferramentas) ou da intenção do autor em fazer do poema uma mancha gráfica em flash, fato é que neste Poegif (nome dado pelo autor a seus objetos gráfico-eletrônicos) a motricidade lânguida do objeto não aflora com tanta contundência (credite-se ao vício e nossa percepção analógica?). o viés lúdico da proposta permite-nos imaginar: e se o texto, a mancha gráfica do giz tigrino, se movesse dentro de uma moldura também móvel - movediço pacto felinopéico?

mas aqui, a experiência de M.S. não coincide com a arte performática que espicaça os limites semióticos com o puro intuito de provocar um "estímulo"; o esforço para mover a versão opaca do objeto, amparada por alguns recursos da nova mídia, já é, senão o discurso, uma idéia animada desencadeadora de outras experiências lógicas e visuais. enfim, lance de manejar a economia dos pixels sem a pretensão de invalidar (ou convalidar) os acúmulos. verter o poema, antes plasmado no suporte livro, em animação proliferante .

Cândido Rolim

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