A leitura assemelha-se a uma operação de acercamento, tateio, aproximação, insinuação criativa. Não há a leitura última ou única do texto.
Mas essa esquiva (detonada pelo esforço plástico do autor e em parte atribuível a seu repertório) não pode (ou pelo menos não deveria) ser tomada pelo autor como um triunfo, uma epigonia consagradora.
O projeto do texto furtar-se, a todo custo, a uma apreensão “rasa” pode, por outro ângulo, cair no esnobismo ou mistificação da dificuldade, esgotando-o ou plasmando-o em instituição a meio caminho de onde ele, em potência, poderia chegar ou, melhor, partir.
Não se deve esquecer que a malha do impasse textual é ainda porosa e tecida com elementos minimamente comuns a leitor e autor, a ponto de se permitir prever um horizonte de intriga onde, em tese, seria possível haver, senão a coincidência, pelo menos a mútua reinvenção, a estranheza durável.
Cândido Rolim
Cândido, é assim que desejo ler/ser lido. Minha escritura pode ganhar muito se eu atender a essa concepção de leitura como mútua reinvenção. Mas o historiador tem, quase sempre, a pretensão de "saber" e "dizer" "tudo"... quando a gente perder isso, a gente vai escrever melhor. O que me incomoda é a fúria do leitor de querer "tudo" em um texto de história. Isso não é poesia.
ResponderExcluirIsso mesmo. Às vezes, sob o pretexto de sermos didáticos ou "compreensíveis" não desconfiamos de que participamos do jogo fabuloso da ilusória abrangência de que muito poucos (ou ninguém)escapam. Mas independente desse desejo de "tudo", há sempre um franja da história ser reinventada, suspeita, entre fato e relato. Concorda?
ResponderExcluirSim. O difícil, me parece, é encontrar a franja, a margem, a ranhura onde inscrever significados compartilhados, que ao mesmo tempo que parecem vindos de fora, estão "dentro" de autor e leitor.
ResponderExcluirProcesso de escrutínio. Importante observar que é também o leitor que "imprime" significado à história, relevando ou irrelevando seus recortes mínimos. elegendo dela (e de tudo) o pensável.
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