A leitura assemelha-se a uma operação de acercamento, tateio, aproximação, insinuação criativa. Não há a leitura última ou única do texto.
Mas essa esquiva (detonada pelo esforço plástico do autor e em parte atribuível a seu repertório) não pode (ou pelo menos não deveria) ser tomada pelo autor como um triunfo, uma epigonia consagradora.
O projeto do texto furtar-se, a todo custo, a uma apreensão “rasa” pode, por outro ângulo, cair no esnobismo ou mistificação da dificuldade, esgotando-o ou plasmando-o em instituição a meio caminho de onde ele, em potência, poderia chegar ou, melhor, partir.
Não se deve esquecer que a malha do impasse textual é ainda porosa e tecida com elementos minimamente comuns a leitor e autor, a ponto de se permitir prever um horizonte de intriga onde, em tese, seria possível haver, senão a coincidência, pelo menos a mútua reinvenção, a estranheza durável.
Cândido Rolim