Quando nos aproximamos a uma poética contemporânea, a técnica logo se destaca como chave única da fruição. Melhor dizendo: o produto estético parece incapaz de nos conceder uma intriga desvinculada da informação técnica que lhe serviu de insumo.
Não admitimos que nada foi posto ali sem antes passar por um criterioso recuo, um desconforto calculado que resulta – mesmo que esta talvez não seja a proposta aparente – no emprego tão consciente quanto infalível de uma techné.
E se não for assim tão sedutora a lógica do desafio, a consequência dessa praxe, principalmente quando o meio deixa de ser a mensagem, não seria quedar a obra a meio caminho de algo não necessariamente prometido, mas objetivamente verificável? Quer dizer, entre fruir abertamente o desvio indicado pela técnica e a rarefação dos sentidos que sustentam o discurso, o leitor não optará pela desistência?
Cândido Rolim